terça-feira, 11 de dezembro de 2012

As marcas que me deixaram


Memórias de Formação

Ressaltando a importância das nossas memórias no processo de formação docente e sabendo que o conceito de memória vem sendo abordado por diversas ciências sociais, conclui-se que a memória como fenômeno social,depende do relacionamento do individuo com a família, classe social, a escola, grupos de convivência e de referência a este individuo. Bergson Halbawchs afirma que 
“[...] lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com imagens e ideias de hoje as experiências do passado.” As recordações não afloram em estado puro, na verdade elas são tratadas pelo ponto de vista cultural e ideológico do grupo no qual o sujeito está inserido.(HALBAWCHS,1996,12p.) 
Partindo dessa premissa propusemo-nos a refletir sobre a nossa prática a parte da análise das experiências da equipe. É possível constatar que existem muitas diferenças nas posturas dos antigos professores para as nossas práticas atuais. O trabalho dos nossos antigos professores foi importante no sentido de possibilitar uma revisão da nossa própria prática. O nosso modo de atuar, inegavelmente foi influenciado pelos nossos antigos professores, alguns positivamente outros não, porém de certo modo todos nos deixaram marcas. Parafraseando o professor Paulo Freire, consideramos que não chegamos aqui sozinhos e vazios, mas carregamos conosco a memória de muitas tramas e um corpo molhado pela história e pela cultura. De fato, vamos tramando os pedaços de tempo que nos constituem numa rede maior. Quando percebemos o parentesco entre o tempo vivido e os tempos por vir é que se dá o processo de formação, o qual, em parte, depende das "soldaduras" que fizemos e faremos dos instantes vividos.
Uma reflexão aprofundada sobre a metodologia aplicada pelos professores que tivemos percebeu-se que na maioria, modismos e idéias transplantadas acabam evidenciando uma prática tradicional ou enveredando pelo tecnicismo. Vale ressaltar que, a ênfase era dada aos exercícios, a repetição de conceitos ou fórmulas, cópias, interrogatórios orais, pois através da memorização visava disciplinar a mente e formar hábito, o que acaba por adestrar os alunos. Valoriza-se a aula expositiva centrada no professor sem se preocupar com diferenças individuais e sem maiores elaborações pessoais.
A relação professor/aluno se dava de forma vertical e hierárquica, o professor era quem detinha o saber e a autoridade, dirigindo o processo de aprendizagem, onde se apresentava como modelo a ser seguido.
Á chamada Educação Tradicional da qual fomos participantes, que hoje é bombardeada por críticas severas, como se nada de positivo ela tivesse acrescido á construção da nossa sociedade, manifestamos nossas considerações. É necessário ponderar o período da educação tradicional, visando, também garimpar o que ela pôde contribuir para o crescimento cultural e mental da Civilização, sem o estigma de qualquer ideologia, apenas com o objetivo de estudar os pensadores em educação desta época, nos surpreenderemos com a fortaleza que foi a escola dentro de um contexto dominado pelo fanatismo religioso, político e econômico, onde pessoas foram educadas de forma a se transformarem em seres humanos responsáveis, fortes moralmente, e bem preparados para viver o seu tempo da maneira rígida como naquela época era a exigência.
Em suma, é preciso considerar e aprofundar nossa visão sobre a época, contexto histórico e cultural, que provocou tantas exigências, aparentemente traumatizantes, mas que permitiu um fortalecimento mental, emocional e cultural, num momento histórico delicado e exigente, que ainda estamos tentando esquecer. Após uma análise de todos esses aspectos é possível constatar que a realidade local influencia diretamente os rumos da educação e que toda experiência é válida quando se tem sensibilidade e maturidade para extrair delas o que mais tarde será uma mola propulsora para o sucesso. Como diz Lonely Wolf: “Guerras infindáveis marcam a minha existência, vitórias e derrotas fazem parte da minha vida.” (WOLF, 2001)
A partir das experiências relatadas, passamos a perceber e vivenciar o papel do professor e do aluno num processo de interação e reflexão da realidade social para fazerem uso de instrumentos que provocarão no processo ensino-aprendizagem a internalização dos conhecimentos significativamente produzidos pelo conjunto da humanidade e, necessários ao desenvolvimento do ser humano. Podemos concluir que a aprendizagem ocorre quando estimulada e/ou mediada, provocando saltos nos níveis do desempenho do aluno, principalmente quando o ensino consegue se antecipar àquilo que o aluno ainda não sabe. É nesse sentido que o conceito de zona de desenvolvimento proximal defendido por Vygotsky ganha importância, pois, ela permite que a distância entre o desenvolvimento real e aquilo que o aluno tem de potencial para a aprendizagem se estabeleça a partir da mediação do professor.
Porém, não se trata aqui daquele ensinar passivo, mas do ensinar ativo no qual o aluno é sujeito da ação, e não sujeito-paciente. Em última instância, é preciso ficar evidente que o professor agora é o formador e como tal precisa ser autodidata, integrador, comunicador, questionador, criativo, colaborador, eficiente, flexível, gerador de conhecimento, difusor de informação e comprometido com as mudanças.
Refletindo sobre o papel do aluno no processo de aprendizagem podemos afirmar que o cotidiano do aprender vem sendo influenciado pelas comunicações virtuais, ou seja, evidenciamos mudanças na responsabilidade do aluno com a sua aprendizagem. Com relação ao ato de educar cabe aqui a citação de Rubem Alves
"Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais... Entendo assim a tarefa primeira do educador: Dar aos alunos a razão para viver”. (ALVES, 2001)
A grande responsabilidade está no bem-querer, no amor àquele com quem convivemos e dedicamos nossa atenção no dia-a-dia: nosso aluno!É com esse pressuposto que trabalhamos, enaltecendo qualidades e valores tão esquecidos em nossos tempos. Bons professores educam para uma profissão, professores fascinantes educam para a vida.



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